«Não há maior dádiva do que o amor de um gato»
(Charles Dickens)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ESTRELINHAS

IN MEMORIAM...


                    

TIMMY – O GATO QUE VEIO DA CHINA
Em 1983 fomos viver para Macau. Das janelas do apartamento situado na Av. da República para onde fomos morar, avistava-se uma enorme colónia felina e, naturalmente, ninhadas de gatinhos. A tentação era grande e não pudemos deixar de ir lá espreitar os bichanos pequeninos. Logo nos saltou à vista um gatito muito atrevido, que veio ter connosco sem demonstrar qualquer ponta de receio. Teria talvez um ou dois meses de idade, um corpinho e uma cabeça muito redondinhos e uns lindos olhos verdes. Tinha uma pelagem tabby laranja, impecavelmente limpa, certamente graças à mãe gata que observava a ninhada a uma distância prudente. Peguei nele e começou imediatamente a ronronar muito alto, enquanto se ajeitava nos meus braços. Já não saímos de lá sem levar o gatinho connosco. Chamámos-lhe Timóteo, Timmy para os amigos, o gatito ‘made in Macau’, chinês de 3ª, nascido na Avenida-da- República-sur-Rio-das-Pérolas!
O Timmy mostrou ser um animal fantástico. Extremamente inteligente aprendeu rapidamente tudo o que havia para lhe ensinar e treinar… e muito mais. Cresceu e tornou-se um lindo gatarrão com os seus lindos e expressivos olhos dourados com laivos de verde. Acabámos por permanecer em Macau cerca de quatro anos e, quando chegou a altura de regressarmos a Portugal eu impus logo uma condição: o Timmy viria também para Portugal. Era impensável para nós não trazer connosco aquele que já considerávamos como mais um membro da família.
A primeira experiência traumatizante na vida do nosso Timmy seria a longa viagem de avião – sete horas até ao Dubai, mais sete até Londres, num total de 14 horas e, depois, mais duas horas e quarenta e cinco minutos até Lisboa! Em Portugal, o Timmy acabou por se adaptar ao seu novo lar e, recuperado do stress da viagem, voltou a ser o mesmo gato, afectuoso, simpático, meigo e falador. Para o tornar mais feliz, decidimos arranjar-lhe uma amiguita mais nova, uma siamesa chamada Flô. Foi então que o Timmy adoeceu com um problema bastante comum nos gatos que são alimentados apenas com ração sólida – cálculos na urina. Seria submetido a uma grande operação, na qual quase perdeu as suas sete vidas e que lhe retirou por completo o órgão genital, deixando-lhe apenas um canal para urinar. Este seria o segundo grande trauma da vida do nosso Timmy. Mas sobreviveu e acabou por ter uma vida longa, até completar dezassete anos! Com mais alguns percalços pelo caminho, mazelas como diabetes e, já quase para o fim, várias tromboses, das quais recuperou lindamente embora caminhasse meio cambaleante, como se estivesse sempre embriagado, mas fazendo a sua vida quase normal, dormindo e brincando. Sim, porque o Timmy foi sempre um gato com um espírito muito brincalhão e como, entretanto, a nossa colónia felina havia aumentado substancialmente, ele tinha sempre parceiros para as brincadeiras.
O nosso Timmy ainda viveu mais um par de anos depois dos AVC’s e foi sempre um bom companheiro, sensível, fiel e dedicado. Era capaz de perceber quando eu estava triste ou deprimida, vinha ter comigo e enroscava-se no meu colo, ronronando, como se quisesse, com os seus poderes curativos, curar-me também dos meus estados de alma menos bons! 
O fim chegou rápido quando o Timmy, já velhote e cansado, deixou praticamente de comer e passava a maior parte do seu dia, e da noite também, a dormir. Ainda esteve durante algum tempo a levar soro e eu tinha de lhe dar água com uma seringa para tentar mantê-lo hidratado. Uma noite ele partiu, mansamente, deixando na nossa vida um grande vazio e um profundo sentimento de orfandade.

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